Desclassificada por engano do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a estudante Jacqueline Chen, de 16 anos, fará na próxima semana uma prova exclusiva montada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).
O novo exame, garantido pela Justiça, deveria ter sido aplicado na quarta e quinta-feira desta semana, 12 e 13, no Dante Alighieri, colégio em que cursa o 3.º ano do ensino médio. Ao chegar à escola, foi surpreendida pela ausência de funcionários do consórcio que aplica o exame. “Tinha me preparado mais uma vez, feitos exercícios e, quando cheguei lá, não havia ninguém”, afirma. “Acho uma grande falta de respeito o que estão fazendo comigo.”
Em novembro, a aluna foi impedida de fazer as provas do segundo dia do Enem por ter sido confundida com uma homônima de Mogi das Cruzes (SP), que fotografou o exame e divulgou a imagem em redes sociais. A Jacqueline de São Paulo foi retirada da sala por um fiscal e obrigada a assinar um “termo de eliminação”. A de Mogi fez as questões sem interrupção.
O caso foi revelado pelo Estado e, no dia seguinte, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, entrou em contato com a mãe da jovem paulistana, pediu desculpas e assegurou que a aluna poderia fazer nova prova. “Quando o ministro me ligou assumindo o erro, ele veio com números, dizendo que aquele era um caso em milhões. Isso não importa, minha filha foi prejudicada”, afirma Wu Shang Yi, mãe de Jacqueline. “Ela, que sempre foi a mais nova da turma e nunca mais será a mascotinha caso não entre na faculdade este ano”, diz Wu.
“Teve que acontecer comigo para que eu percebesse como os problemas do Enem podem atrapalhar a vida de um aluno”, declara Jacqueline. Posteriormente, a candidata de Mogi foi eliminada do Enem.
No final de novembro, a jovem ganhou liminar que lhe deu o direito de escolher local e data em que faria as provas e a dispensava dos exames nos dias 4 e 5 de dezembro, quando o Enem é aplicado em unidades prisionais e socioeducativas. Na ocasião, a família alegou que a jovem seria prejudicada, pois a data era próxima de outros vestibulares.
Uma decisão judicial emitida no final da quarta-feira, no entanto, prorrogou o exame para o dia 20. O Inep e o consórcio responsável pelo Enem recorreram à Justiça, pedindo prazo maior. “Nossa principal preocupação é que ela faça essa prova que lhe foi tirada”, diz Wu.
Documentos entregues pelo Inep à Justiça estimam um gasto de R$ 2,3 milhões para a reaplicação do exame à aluna. O valor refere-se a custos com produção, manuseio, segurança e logística. O MEC não se pronunciou sobre esse valor para a elaboração de um único exame.
De acordo com o MEC, Jacqueline terá o direito de fazer uma única avaliação, a que abrange questões de linguagens e códigos e de matemática, além de uma redação. A prova que a estudante fez no dia 3 de novembro deve ser computada.
A estudante não está satisfeita com a possibilidade de fazer o exame no dia 20 e, por isso, seus advogados pediram na Justiça neste quinta uma retificação da data para os dias 18 e 19. Isso porque a data estipulada pela Justiça coincide com a formatura da jovem. “Mais uma vez, Jacqueline seria prejudicada”, diz Evaristo Araujo, advogado da família.
Além dos transtornos que diz já ter sofrido com a eliminação, Jacqueline tem receio de que a falta de uma nota no Enem a prejudique em alguns vestibulares. Sua pontuação lhe garantiria pontos a mais na Unicamp e no Mackenzie, onde concorre a uma vaga no curso de Arquitetura. “Não me importaria em fazer cursinho no próximo ano caso não estivesse, de fato, me preparado o suficiente”, diz Jacqueline. “Mas se eu não passar por conta do Enem, isso, sim, seria uma grande injustiça.”
Para evitar isso, o advogado da família deve entrar com ação preventiva para que a nota da estudante seja acrescida posteriormente. A família também estuda entrar com uma ação contra os órgãos responsáveis pelo Enem, para uma “reparação do dano moral” causado à jovem.