Na mesma pesquisa do Datafolha, a presidente Dilma alcança a marca de 65% na soma de ótimo e bom. Grande parte dos votos vem desse grupo, vem daqueles que avaliam positivamente seu governo. A regra é simples e está baseada nas duas últimas eleições nas quais o presidente em exercício pôde se candidatar à reeleição, Fernando Henrique em 1998 e Lula em 2006.
O presidente tucano, segundo as pesquisas, teve 85% daqueles que avaliavam seu governo “ótimo” e 73% dos que o avaliavam “bom”. Lula, por sua vez, converteu em votos 95% do ótimo e 82% do bom. Conclui-se que em situação de reeleição o governo converte de 80% a 85% de sua soma de “ótimo” e “bom” em votos.
Quando multiplicamos os 65% de ótimo e bom de Dilma por 0,8, obtemos 52%. Isso significa que, dos 58% de votos de Dilma na pesquisa do Datafolha, ao menos 52 pontos percentuais são de eleitores que avaliam positivamente seu governo.
Os números não mentem jamais, eles ajudam com frequência a fundamentar o que é óbvio. As pessoas que aprovam um determinado governo – pode ser o governo federal, algum governo estadual ou municipal – têm a tendência a votar, em sua grande maioria, para manter o que está bom.
O julgamento é sempre subjetivo. Um governo bom para um conjunto de pessoas pode ser péssimo para outro grupo. Contudo, o voto tende a ser coerente com a avaliação. Quem avalia positivamente um governo vota para mantê-lo, e quem o avalia negativamente vota para mudá-lo.
um governo converte de 80%
a 85% de sua soma de “ótimo”
e “bom” em votos
Quando a líder deste governo bem avaliado disputa a reeleição, é mais fácil para o eleitor decidir. Para ele manter o governo, basta votar em quem já é presidente, governador ou prefeito. O favoritismo de Dilma tem a ver com isso. Fernando Henrique e Lula foram reeleitos com aproximadamente 50% de ótimo e bom. Dilma tem bem mais que isso.
Do ponto de vista do governo, o grande desafio é manter a popularidade alta até o final do próximo ano. A aprovação de qualquer governo federal, no Brasil, desde o advento do Plano Real, está relacionada com o aumento do poder de compra da população, em particular dos mais pobres, que formam a grande maioria do eleitorado.
É verdade que a classe C aumentou. Não é menos verdade que a vida de grande parte da população segue sendo marcada pela escassez. Há indicadores que comprovam que o Brasil está 11 anos atrás do México – e 14 anos atrás da Rússia – no consumo per capita. A renda média familiar da classe C no Brasil é de pouco mais de R$ 1.500 por mês. Trata-se de uma renda que está longe de possibilitar que esse grupo tenha padrão de consumo próximo ao da classe média nos países desenvolvidos. Isso significa que qualquer aumento real no poder de compra dessa população, além de ser bem-vindo, é atribuído ao governo.
O perfil de idade de nossa população fez com que a necessidade de gerar empregos novos diminuísse bastante. A cada ano que passa diminui a quantidade de jovens que procuram seu primeiro emprego. Esse é um dos motivos que vêm contribuindo para a menor taxa de desemprego da história.
Adicionalmente, em que pese o crescimento do PIB de 0,9% no ano passado, o consumo das famílias aumentou em 3,1% em 2012. A combinação de desemprego em baixa e consumo das famílias em alta resulta, na ausência de uma inflação muito elevada, no aumento real do poder de compra. É esse aumento real que explica a elevada aprovação do governo Dilma.
Os políticos têm como prioridade conquistar e manter o poder – esse é o objetivo principal da atividade política. O governo quer ficar no poder e a oposição quer voltar a controlá-lo. Isso resulta na inexistência de dogmas. Ou seja, a inflação não é boa ou ruim em si mesma. A inflação é ruim caso traga com ela uma consequência política negativa. Fernando Henrique combateu a inflação em 1994 porque Lula era, no início daquele ano, o líder nas pesquisas de intenção de voto. Fernando Henrique manteve a inflação baixa para deter Lula em 1998. Lula aumentou o superavit primário e deu autonomia ao Banco Central para manter a inflação controlada. Seu eventual crescimento poderia colocar em risco a reeleição que viria a ser disputada em 2006.
Fernando Henrique e Lula, utilizando-se de instrumentos econômicos diferentes, foram reeleitos porque o poder de compra real da população aumentou em seus respectivos primeiros mandatos. Como contraponto, há a eleição de 2002, quando o desemprego foi muito elevado. Fernando Henrique não elegeu seu sucessor porque houve uma queda no poder de compra real justamente no ano eleitoral.
Do ponto de vista de qualquer governo, a combinação mais adequada entre taxa de emprego, aumento do consumo das famílias e inflação é aquela que mantém elevada – e preferencialmente em trajetória de alta – a popularidade presidencial. Assim, politicamente só faz sentido para Dilma combater a inflação quando ela resultar na redução real do poder de compra. Só nesse caso sua popularidade correrá o risco de cair – o que resultará, em seguida, em queda na intenção de votos.
O que as eleições presidenciais de 1998 e de 2006 nos ensinam é que a opinião pública tem suas leis – e uma delas é que presidente que disputa a reeleição converte no mínimo 80% da soma de seu “ótimo” e “bom” em votos. Do ponto de vista de Dilma, é preciso zelar para que a avaliação de seu governo permaneça alta até 2014. Esse é, para ela, o caminho mais seguro em direção à reeleição.
Fonte: http://revistaepoca.globo.com/opiniao/noticia/2013/04/por-que-dilma-e-tao-popular.html